terça-feira, 24 de julho de 2012

Vocês pediram aí esta!!


 

Comidas mexicana, francesa e mediterrânea são patrimônios da Humanidade


A alimentação finalmente integrou a lista de Patrimônio Imaterial da Humanidade, coordenada pela Unesco (Organização das Nações para Educação, Ciência e Cultura). Em novembro, durante reunião realizada em Nairóbi, no Quênia, o comitê formado por 24 países declarou as cozinhas mexicana, mediterrânea (Grécia, Itália, Espanha e Marrocos) e francesa como bens imateriais. É a primeira vez que o modo de comer de uma sociedade será oficialmente protegido para assegurar a continuidade das tradições. Em 2010, 47 novos elementos foram acrescidos a essa lista.

O México (na foto, fajitas mexicanas) foi o primeiro a reivindicar o título de sua culinária tradicional baseada no milho. A campanha liderada por Gloria Lopez Morales, presidente do Conservatório de Cultura da Gastronomia Mexicana (CCGM), começou há seis anos. Para a presidente do CCGM, “a cozinha é um lugar cultural de transformação e auto-estima. É a arte que valoriza o indivíduo”. Com foco no local, sua empreitada é “não deixar morrer o que é tradicional”, como o resgate da culinária popular, pois, segundo ela, o mexicano tem orgulho de sua comida.
A distinção da cozinha mexicana se baseia em salvaguardar a identidade e dar continuidade a uma gastronomia com profundas raízes pré- hispânicas, justificou Gloria, em nota à imprensa. Na conquista do título, a líder destaca o papel do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) ao longo do processo de apresentação da candidatura. O conservatório pretende atuar em duas frentes de trabalho. Na primeira, a finalidade é orientar pesquisas sobre processos inovadores na gastronomia, associado à economia, ciências agrícolas, cultivos, modos de produção e preparação de alimentos tradicionais. E na segunda frente a meta é criar um centro de documentação virtual com apoio dos meios de comunicação.
França

Já a França terá o ritual da refeição resguardado, a maneira como desenvolveram os hábitos à mesa e a convivialidade, que influenciou o mundo com sua elegância. Desde a ritmada sequência de entradas com louças e talheres adequados, passando pela apresentação dos pratos à harmonização entre comida e bebida. Depois do anúncio da Unesco, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou a criação de um centro cultural dedicado à gastronomia. Seguindo a linha das citès da ciência e da música, será um centro multidisciplinar com ateliês, exposições, degustações. Várias cidades concorrem para abrigar o projeto, entre elas Lyon, Bordeaux e, claro, Paris, que disponibilizaria um palácio na Place de la Concorde, no centro da cidade, para o museu.
Cozinha mediterrânea

A cozinha mediterrânea engloba quatro países e está centrada no conjunto de alimentos considerados adequados para um estilo de vida saudável. Assim, uma dieta alimentar baseada em tomate, azeite, limão siciliano, laranja, uva, pães, peixes e alcachofra podem garantir longevidade, baixos índices de doenças crônicas e infartos, segundo inúmeras pesquisas que atestam a eficácia desses costumes. Nos Estados Unidos, a chamada Dieta Mediterrânea virou uma febre, sendo anunciada como uma solução eficaz contra a obesidade. O jornalista e ativista alimentar Michael Pollan considera esse regime uma invenção norte-americana e, portanto, desprovido de conexão com a cultura local. Nesse caso, o que deveria ser protegido? O hábito de comer esses alimentos? Talvez faltem motivos para justificar a inclusão desses ingredientes em uma alimentação fora desses países, sob o risco de eliminar itens tradicionais de um sistema culinário local.
No Brasil

Segundo o antropólogo Raul Lody, “comer não é apenas um ato biológico: é, antes de tudo, um tradutor e um sinal simbólico de reconhecimento formal, cores, texturas, temperaturas e estética. Comer é um ato que une a memória, o desejo, a fome, significados, sociabilidade, rituais que falam sobre a pessoa e do lugar onde se vive”. Lody, que coordenou o processo de registro do Ofício da baiana de acarajé como Patrimônio Imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), acredita que o Brasil deveria fazer sua candidatura.
Para ele, o país é um dos poucos no mundo que em 500 anos de história teve o privilégio de produzir uma culinária tão ampla, original e de significados culturais como a brasileira. “Que país pode oferecer sem fronteiras ou idiomas diferentes um menu com tambaqui na brasa, feijão tropeiro, moqueca, chimarrão, arroz de carreteiro, bobó de camarão, leitão à pururuca, carne de sol, acarajé, pato no tucupi, vatapá, pirarucu de casaca?” questiona.
Os três primeiros patrimônios imateriais da humanidade, ligados à comida, abrem caminho para que outros países se candidatem à lista de preservação de seus saberes culinários. Assim como a dança, a arte e a música são tradições que merecem ser salvaguardadas, a alimentação agora integra as fileiras de bens que representam a expressão máxima da cultura de um país.
A lista do patrimônio cultural imaterial da humanidade foi criada por uma convenção, assinada em 2003 e ratificada por 132 países. Seu objetivo é proteger culturas e tradições populares, da mesma maneira que lugares e monumentos. Ao todo, 178 práticas culturais ou tradicionais já foram inscritas como patrimônio imaterial da humanidade

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