Estar acima do peso exige cada coisa da gente. Eu, por exemplo, sabia avaliar direitinho se o banco em que ia me sentar era resistente e aguentaria meu peso. Foi um instinto que desenvolvi para evitar tombos e vergonhas. Mas nem sempre acertava. Em um almoço de domingo com amigos, caí estatelada no chão. A cadeira não aguentou meus 127 kg. Me senti humilhada. O garçom tentava disfarçar enquanto me oferecia outra cadeira. Levantei e continuei meu almoço, mas eu só queria desaparecer. Adoraria dizer que esse foi o primeiro e único vexame da minha história, mas estaria mentindo. Só no meu trabalho, quebrei quatro cadeiras em oito anos. Cadeiras de praia, então, perdi as contas. Com o tempo, deixei de pegar ônibus por medo de ficar entalada na catraca. Só andava de carro, minha rota de fuga. Vivia me desdobrando para fugir de constrangimentos. Aos 31 anos, me sentia fracassada por nunca ter conseguido emagrecer. Só consegui mudar esse cenário quando fui desafiada a perder todo o meu excesso de peso com dieta e exercícios. Topei a aposta, encarei a empreitada e me reinventei como mulher!
Meu trabalho era comer
A obesidade nunca foi novidade para mim. Com 12 anos, eu já pesava 80 kg. Aos 18, estava com mais de 100 kg. E nunca foi por falta de verduras e legumes em casa, viu? O problema é que eu comia de tudo e em grandes quantidades. As guloseimas sempre foram minha válvula de escape. Minha maior incentivadora na tentativa de emagrecer era minha avó, a dona Dilma. Ela vivia buscando médicos para mim, esperando ver a neta mais fininha. Mas sempre fracassei. Assim que me formei em jornalismo, comecei a trabalhar em uma revista. Aí, ganhei um delicioso cargo: crítica de gastronomia. Dá para acreditar? Acho que perceberam meu caso de amor com a comida. Era o emprego dos sonhos! Fazia até dez refeições fora de casa por semana para avaliar os restaurantes da cidade. Eu deveria fazer como muitas colegas de trabalho, que experimentavam só um pouquinho de cada coisa, mas eu comia sem freios. Assim, cheguei aos 120 kg em 2008.
Eu já era obesa mórbida
Continuei engordando até que, em 2012, meu chefe na revista me propôs um desafio. Ele buscava um candidato gordo para relatar os efeitos de uma rotina com reeducação alimentar e exercícios físicos. Relutei o quanto pude. Não queria expor meu peso. Foi uma amiga que me fez acordar. Não faz diferença você dizer seu peso, todo mundo vê como você está gorda! Acho que não esperava tamanha sinceridade. Ela tinha razão. O que eu tinha para esconder? Topei. Minha vida, então, passou a ser supervisionada pelo endocrinologista Fabiano Serfaty e pelo educador físico Dudu Netto. Na minha primeira consulta com o doutor Serfaty, em maio do ano passado, a balança registrou 127 kg, o que me classificava como obesa mórbida.
O médico me passou uma dieta rica em proteína, dividida em quatro fases, com metas semanais. Uma proposta bem parecida com a famosa dieta Dukan, só que menos rigorosa. Na minha reeducação, alguns legumes e verduras que possuem carboidrato são permitidos desde o começo. É um cardápio bem menos radical! Seguindo todas as regras, fazendo academia três vezes por semana e mudando coisas simples, como subir escadas, perdi 10 kg no primeiro mês! Nos seis meses seguintes, sequei mais 35 kg! Essa foi a primeira fase da dieta, cheia de vitórias. Em janeiro deste ano, escrevi minha história de emagrecimento para uma reportagem da revista em que trabalho. Foi um sucesso!
Ainda vou perder 5 kg!
E, mesmo depois de cumprir o desafio, não abandonei o cardápio e os exercícios físicos. Eles viraram meu estilo de vida! Estou na segunda fase da dieta, que me permite comer carboidratos do bem, como pães e massas integrais. Já emagreci mais 10 kg! Hoje são exatos 55 kg a menos. E vou seguir na dieta até perder mais 5 kg! Nesse meio tempo, fui promovida no trabalho, adotei o cabelo curto, vou à praia de biquíni e me descobri uma Fernanda cheia de autoestima. Também conquistei espaço no mundo virtual e virei exemplo para muitas mulheres que lutam contra a balança! Aprendi, ainda, que manter o estímulo psicológico é tão importante quanto a disciplina na dieta. E foi pensando nisso que este ano lancei meu livro, Corpo Novo, Vida Nova. Quero mostrar que não existe o impossível na luta contra a obesidade! Minha obra até entrou para a lista dos mais vendidos! É uma felicidade tão grande! Só sinto muito, do fundo do meu coração, que minha avó não esteja mais aqui para ver sua neta magrinha... Se eu pudesse mandar um recado, seria: vó, eu consegui!