No calor do paletó
Por falta de terno , delegado é retirado de reunião em Ourinhos, cidade onde, no verão, temperaturas chegam a 40°C
O que era para ser uma reunião de delegados virou caso de polícia, com abertura de sindicância e tudo, e, na semana da São Paulo Fashion Week, transformou-se numa discussão sobre etiqueta no mundo da moda.
A confusão começou quando o delegado Paulo Roberto Boberg Barongeno, 36, de Ourinhos (SP), foi a uma correição -fiscalização de viaturas e inquéritos, por exemplo- vestido de camisa social e gravata, sem paletó.
Com os outros delegados presentes de traje, o diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo em Bauru, Licurgo Costa, pediu que ele se vestisse de forma adequada e voltasse.
Num calor de 40°C, Barongeno não retornou.
A corregedoria da Polícia Civil abriu uma sindicância para apurar "uma possível violação de dever e eventual prática de transgressão disciplinar", mas informou que não existe regra que obrigue delegados a usar o terno.
De acordo com a polícia, a investigação não foi motivada pela falta do tal paletó, mas pelo fato de o delegado não ter retornado ao local.
"Se não tinha paletó, como eu ia voltar? Nesse calor faz até mal para o corpo usar paletó", disse Barongeno.
Alfaiate dos famosos como Silvio Santos e único brasileiro na Câmara Europeia da Alta-Costura, João Camargo diz que, com tecidos mais frescos, o calor não é mais desculpa para não usar terno.
"As pessoas estão mais à vontade em relação a trajes, mas em algumas ocasiões é preciso respeitar a tradição e as outras pessoas. Agora, abrir uma sindicância por falta do terno é exagero", diz.
É o que também acha a consultora de moda Glória Kalil. "Nunca soube que etiqueta fosse caso de polícia. "O que vale são as convenções. As pessoas conhecem os códigos do grupo que frequenta, mas abrir investigação é de um rigor excessivo."
No Rio, a Eletrobras decidiu flexibilizar as exigências do traje de seus funcionários. Até 14 de março, os ternos podem ficar guardados. É o segundo ano que a empresa opta por suspender a obrigatoriedade do terno.
Coordenador diretoria de Administração da Eletrobras, Manoel Aguinaldo Guimarães, diz que a decisão gera mais eficiência, mas precisa ser usada com bom senso.
"Mais conforto neste calor gera mais produtividade. Terno não torna ninguém mais inteligente", afirma.
Para Cláudia Matarazzo, chefe do cerimonial do governo paulista, deve, sim, haver uma flexibilização em virtude do clima quente.
"Terno só pode ser exigido numa solenidade, mas é preciso ter critério, a flexibilização tem de ser relativa."
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